sábado, 11 de junho de 2011

Ruína - de Manoel de Barros

Um monge descabelado me disse no caminho: Eu queria construir uma ruína. 
Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução.
Minha idéia era fazer uma coisa com jeito de tapera. Alguma coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam. 
Porque o abandono não pode ser apenas um homem debaixo da ponte, mas pode ser também um gato no beco ou uma criança presa num cubículo. 
O abandono pode ser também de uma expressão que tenha entrado para o arcaico ou mesmo de uma palavra. 
Uma palavra que esteja sem ninguém dentro. (o olho do monge estava perto de ser um canto.) Continuou: digamos a palavra AMOR... A palavra amor está quase vazia. Não tem gente dentro dela. 
Queria construir uma ruína para salvar a palavra amor. 
Talvez ela renascesse das ruínas, como o lírio pode nascer de um monturo.
 E o monge se calou descabelado

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